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terça-feira, fevereiro 28, 2006

Vida de Cão

Não percebo o conceito actual de vida de cão. É que a do meu é de lorde (para não arriscar escrever principesca).
Já nem refiro o facto de ter conquistado em pouco tempo, e por esta ordem, os seguintes territórios: terraço, cozinha, sala, escritório, quarto de hóspedes e finalmente (a partir das 8h30 da manhã) o tapete do quarto dos meus (não dele, meus!) caros progenitores. Objectivo final: o leito dos reis e...se possível...sem a raínha.
Basta-me dizer que o gasto mensal em medicamentos com o Black (versão de mais fácil pronúncia face ao anterior Preto) tem sido bastante superior ao nosso (pobres humanos). Depois, as palavras de carinho que, nesta altura, teriam todo o sentido para os netos (mea culpa) vão directamente para o bicho.
A comida é cozinhada ao pormenor da melhor nouvelle cuisine e as más-disposições do cavalheiro espalhadas pela casa são prontamente atendidas e ele, prontamente, ressarcido do gourmet em falta.

Todos os dias é massajado, passeado, apaparicado...meu jequito...meu pequenino (que diabo, ainda pesa uns bons 43 Kgs)...quase adormecido em braços...cama, comida, roupa lavada e uma afeição que transparece no sorriso babado de todos lá em casa.
Já quase que me aceitou como membro efectivo da família. Lambe-me as mãos de vez em quando...não sei se será falta de alternativa ou diplomacia canina.
Sonha alto à noite, acorda-me a altas horas e todas as vezes por causa daquela carência afectiva (aparentemente sem razão). Todas as madrugadas é ameaçado de bengala ...que agora é que são elas!...ou...queres ver o que te acontece?...e...vais para o terraço que é uma limpeza!...e todas as madrugadas se repete a sinfonia.

Há quem diga que é trauma por causa da cegueira. Não vê do lado esquerdo. Andou em lutas lá pelo campo...com funil e contra os móveis durante uns meses. Medo do escuro, medo de ficar sozinho. Quem não tem?
Ontem expulsou-me do sofá de gente e não me deixou pisar a manta dele.
Anda a ficar mimado demais, digo em surdina, mesmo sabendo que é a única forma de demonstrar que pertence a esta pequena comunidade familiar.

Mas o que representa tudo isto perto do que sinto, quando o afago e o ouço ronronar de mimo como um gato, agradecendo as minhas festas e retribuindo com aquela pata meiga levantada?
De que me posso queixar se à noitinha - quando tudo dorme e chego após grandes e barulhentos convívios - é ele que, efusivamente, me faz sentir bem-vinda a casa?