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sexta-feira, abril 07, 2006

Memória Permanente





Sentei-me do lado da margem das promessas de amor e da luz do fim de tarde. Estava frio, mas o pôr-do-sol aqueceu, instantâneamente, o meu horizonte. Mais luminosidade e a cor dos meus olhos seria outra.
A fotografia preencheu o meu pensamento, substituindo um rol de hipóteses e ponderações em rodopio (que desnorteiam tantas vezes - a náusea kafkiana em versão muito mais leve obviamente). E só o momento fotográfico da realidade poderia substituir o momento pictográfico da imaginação. Porque a exactidão das imagens prende-me ao mundo como uma rocha daquelas que passam vidas e ultrapassam-nas vestidas de verde.
Não precisei de correr ou inventar acrobacias para captar ângulos originais. Pois, ao longe, um casal - alheio a tudo - posava num abraço perfeito.
E fui ladra desse momento, como um fotógrafo acaba por ser. Rouba expressões de humores e amores, faces mais ou menos contorcidas, tons de céu e de terra que só alguns ousam pintar, disposições e sentimentos em estado puro.

Não duvido que um dos maiores furtos da fotografia ocorreu em Paris, por autor que desconheço, em altura incerta.
Mas foi um mal menor. De facto, um ínfimo delito comparado com o contributo para a produção romântica de carinho e beijos que a fotografia terá provocado naqueles que correm atrás de aconchegos de segundos, mas que acabam por durar uma vida.
Sentimento sublime quando olho a silhueta daquela paixão permanente colorida a preto e branco.