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domingo, abril 23, 2006

Sei de Nós

Sei da noite e sei da lua.
Sei do ar salgado e do sabor húmido
que transpira no corpo
quando olho o mar.
E quando não sei de mim,
sei que sou tua.

Conheço a linguagem do teu acordar.
Pergunto se sou assim,
quando a ventania fala por mim.
E ninguém nos ouve,
pois a água cai em pedras,
na cidade, lá fora, a navegar.

Sei respirar serenamente
para não quebrar a estátua
de pele em marfim que formamos.
Uma estátua de faces juntas,
que se tocam lentamente.

Contornos de uma Aldeia Submersa

sexta-feira, abril 07, 2006

Memória Permanente





Sentei-me do lado da margem das promessas de amor e da luz do fim de tarde. Estava frio, mas o pôr-do-sol aqueceu, instantâneamente, o meu horizonte. Mais luminosidade e a cor dos meus olhos seria outra.
A fotografia preencheu o meu pensamento, substituindo um rol de hipóteses e ponderações em rodopio (que desnorteiam tantas vezes - a náusea kafkiana em versão muito mais leve obviamente). E só o momento fotográfico da realidade poderia substituir o momento pictográfico da imaginação. Porque a exactidão das imagens prende-me ao mundo como uma rocha daquelas que passam vidas e ultrapassam-nas vestidas de verde.
Não precisei de correr ou inventar acrobacias para captar ângulos originais. Pois, ao longe, um casal - alheio a tudo - posava num abraço perfeito.
E fui ladra desse momento, como um fotógrafo acaba por ser. Rouba expressões de humores e amores, faces mais ou menos contorcidas, tons de céu e de terra que só alguns ousam pintar, disposições e sentimentos em estado puro.

Não duvido que um dos maiores furtos da fotografia ocorreu em Paris, por autor que desconheço, em altura incerta.
Mas foi um mal menor. De facto, um ínfimo delito comparado com o contributo para a produção romântica de carinho e beijos que a fotografia terá provocado naqueles que correm atrás de aconchegos de segundos, mas que acabam por durar uma vida.
Sentimento sublime quando olho a silhueta daquela paixão permanente colorida a preto e branco.

quarta-feira, abril 05, 2006

With Flowers in my Hair

Tinha uma saia azul comprida com franjas, que combinava com uma túnica branca antiga (que a minha mãe fez desaparecer por causa da traça causadora de um buraco jamais recuperável). Vestia-a com umas botas de ilhós que foram eliminando as franjas, pelo tempo fora, uma a uma. Mas eu insistia e ninguém tinha uma saia comprida assim...que se parecesse sequer...

Gostava de me identificar com outros tempos. Só me faltava ir a S.Francisco e usar flores no cabelo. Não precisava dos banhos de lama, pois a saia (comprada nos indianos no Natal de 1994) tingia-me as pernas de azul.