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quarta-feira, setembro 13, 2006

Nudez










Quero colar a minha cara à tua, porque dar-te as mãos já não é suficiente. Quero desaparecer em ti num abraço, porque sentir o teu calor de perto já não me chega. Sinto cada minuto contigo como mais uma pérola do meu colar invisível, que me salva de um mar de ostras vazias. Vem cá. Não posso olhar a luz sem te sentir aqui. O amor que me recolhe é o mesmo que me expande na história de um lugar que é nosso. E o coração é aquele que me confere tal poder que a intangibilidade não permite tocar.
É assim nua que me apresento a ti todos os dias. E amanhã vais tomar por certo aquilo que realmente é. E eu construo contigo fortaleza de verdade. Isso, eu sei e guardo como uma das peças que veste a minha vida de magnificência.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Teatro

Oh, Sr. Albuquerque faça o favor de entrar! Esteja à vontade. Cafezinho? Chá, talvez? Sente-se, sente-se [sente-se que precisa mesmo de estar sentado quando lhe disser que o spread da sua conta corrente aumentou].
Então como vai a vida [e o negócio como corre, vai disponibilizar mais fundo de maneio para dinamizar a minha carteirinha de clientes, pois sem ela não atinjo os objectivos nem recebo o prémio trimestral]?
Espero que a viagem de férias ao Alentejo tenha corrido bem [e espero que o seu Fiat Punto tenha dado o berro que assim pode fazer um ALD em nome da empresa e eu posso cumprir o compromisso de crédito especializado].
Ah, estava muito bom tempo! Que bom [é possível que o sol lhe tenha estimulado as feromonas e o seu desejo em fazer uma aplicação a prazo num novo produto de investimento]!
Veio entregar o balancete actualizado da empresa. Óptimo, estou a ver que já podemos pôr em ordem o dossier [estou a ver também cem mil euros em suprimentos que me dão muito jeito para aumentar o volume de negócios global].Pois, quer negociar uma linha de factoring. Ora, ainda bem. O que precisamos é de incentivar, temos que andar com o país para a frente [e eu tenho que apresentar resultados, porque por agora continuo por cá a ser actriz em horas de expediente…o país está de férias e ainda não restou tempo para a minha estrelinha da sorte laboral brilhar]!

terça-feira, setembro 05, 2006

Fragmentos









Hoje, as horas passam ainda mais devagar. Não sei o que inventar para adiantar o relógio.
Segunda-feira e sexta-feira tornam-se dias completamente reconhecíveis a olho nu. Sinto que escrevo com a cabeça cheia e com as mãos vazias de disponibilidade para o que se move e o que se ouve aqui mesmo ao lado.












Atiro-me destino abaixo, ando aos tropeções nos desencontros e acabo por me ancorar a ti. Sou de lua prateada e a noite não me assusta. Os meus sentidos são desatinados por um tique-taque vespertino, mas já entendo que é temporário pois daqui a alguns dias vou ouvi-lo contigo. Temporariamente só.
Um suspiro entorpecido e encravado na minha garganta, como a nevrite nas minhas costas. O meu lugar…existe algum lugar…digo antes…que lugar mereço…ideias que se formam e invadem o tempo dos incêndios. Qual Virgínia Woolf, muito longe das suas pedras nos bolsos, mas perto do seu profundo sentido das palavras (e aquele que tende para a boa fortuna).
Se escrever é forma de espelhar a minha forma de vida, hei-de espelhá-la até ao limite do permitido pela minha catarse interior.
São horas de me pirar daqui. Só o simples pormenor do bafo quente lá fora me alegra. E como eu odeio temperaturas extremas!Voltando a ti. Só tu. E que o arrepio incerto não passe da minha imaginação. Brevemente, ouvirei o som do despertador ao teu lado. E só isso…basta.














Como o tempo martiriza as minhas poucas mas manifestas migalhas de paciência! São loucos e ninguém os avisa!
O erro poderá até ser meu, pois afinal a liberdade oferece-nos o risco de escolhermos mal. Escolhem-se amores, livros, divertimentos e empregos (seja lá o que signifique para cada um de nós). No meu caso, o defeito está no último. Por vezes, de nada nos serve a bússola.

Apesar de tudo, prefiro a liberdade. Aquela que custou alma e coração aos nossos pais.
Mas…só por hoje…arranjem-me um quarto escuro por favor.











Sonho muitas vezes que não existes. E, nesses momentos, não consigo compreender aquele vazio no estômago ou porque raio tento marcar um número com dígitos que trocam indecentemente a ordem na minha cabeça.
Privo-me do sono para enveredar por uma história que me possui. A realidade deixa de me pertencer e a única coisa que me liga à terra é ouvir, ao longe, o vento no toldo do meu terraço. Nesses minutos ou segundos, julgo que o objectivo do jogo é contentar-me com o despertar.
Enfim, o aparecimento constante de ideias desgasta-me. Mas, mais desgastante é quando me fico por aí…Pelo menos existes, pelo menos aqui os medos dos sonhos são derrubados.