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domingo, agosto 27, 2006

Silêncio II















e ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia

Al Berto

Silêncio I

sexta-feira, agosto 25, 2006

No Parapeito das Perspectivas

Debruço-me sobre o parapeito das perspectivas e deixo que a respiração se contraia e que a falta de oxigénio provoque uma névoa deliciosa de desorientação momentânea...o ar morno da tarde levita e transforma-se em rasgos hedonistas de sons mudos. O chão foge-me, as pernas traem-me, encarno o ouro líquido sobre o lugar dos deuses esquecidos que sustentam preces sussurradas.
Levanto-me...transparente sobre mim. Mãos macias que me enrolam o cabelo caído. A voz que não se assusta com a minha presença e eu não recuo. Almejo a alvorada e o canto indelével que me sopra nos ouvidos a névoa deliciosa do meu norte.
Mãos maternais da musa que me atenta. Cumplicidade que me vai exaltando por aí.
E eu não recuo ao parapeito das perspectivas.

terça-feira, agosto 15, 2006

Identidade



Tirávamos do armário o nosso melhor vestido, usávamos o eyeliner bem carregado com rímel q.b., não se desse o caso de sermos disparadas a fotografias a preto e branco.
Tínhamos orgulho quando nos diziam parecidas e tantas vezes fomos filhas dos mesmos pais...As noites desenhavam-se para além das horas, porque as repetíamos uma à outra, antes de dormir, para que o sono não fosse atribulado e o acordar, uma confusão de sensações de ansiedade e disfunções cardíacas.
Saíamos, muitas vezes, a distância suficiente para fumar o cigarro do consolo e da paz, imaginando o que seria dali para a frente, esquecendo as vicissitudes dos lados oblíquos das pessoas que tremiam o nosso bom senso.
A minha identidade parte, também, do que sou na amizade e nós...sempre fomos e seremos um B.I. vitalício.
As nossas vidas misturavam-se e, sem pisar fronteiras, conhecias muitas vezes o sentido das minhas palavras...que eu própria investigava.
Segurávamo-nos sem hesitar ao vivo e a cores ou quando o telefone era a única via de dizermos as palavras certas aos ouvidos famintos.
Mais de 10 anos...continuamos a pôr em curso o dicionário da dedicação que ainda percorremos juntas. Porque, quando os dias de alma vaga me encontram, ainda és tu que me acalmas com o teu Deixa lá, Tita...e que sabes que vou ser feliz. No final, sou feliz. E tu continuas por cá, pois és um pouco do meu perfume misturado com o teu de memórias guardadas.

domingo, agosto 06, 2006

A Viagem




Verão velho de Setembro, em 2004. Encontrei-te a meio da minha viagem imaginária de balão de ar quente que aquecia o pensamento dos tempos que haveriam de chegar.
E chegaste. Não foi preciso abrandar o ritmo, nem o desejava por um segundo sequer. Não era altura para ter medo das rajadas mais fortes.
E ainda bem. Se hesitasse nunca teria alcançado ventura como esta, desenhada a pinceladas de Amor. E o balão ainda vai no adro...

sábado, agosto 05, 2006

Movimento II





Geralmente, é tarefa árdua parametrizar-se emoções, reacções ou sensações humanas. À sua maneira, a diferença torna-nos mais próximos. E ainda bem, porque é sempre uma desculpa para aquilo que não se explica, o que, por si só, já é uma explicação plausível.
Apesar de tudo, a (con)vivência mostra-me, por vezes, o contrário. É possível encontrarmos nos outros aquilo que outrora já sentimos e demonstrámos da mesma forma. E ainda bem, porque é sempre um motivo de explicação que serve para nos revermos de vez em quando e bradar por aí as distâncias percorridas até à serenidade necessária.
Palavras. Olhares. Timbres. Lentidões. Sobressaltos. Arrepios. Palidez. Risos. Exuberância. ... Os mesmos. Em tantas vidas constantemente.

Ainda assim, será melhor não conseguir encontrar uma regressão linear múltipla com estas variáveis explicativas. A inteligência emocional sobrevive porque é provocada. Os erros aleatórios incitam à riqueza de espírito e o inesperado é uma bela provocação.

terça-feira, agosto 01, 2006

Insónia











A continuidade da minha sanidade mental está directa e negativamente relacionada com a ansiedade nocturna do meu cão.
Mais um guincho, mais um latido, mais umas horas perdidas na noite que já não é longa...
Mas não consigo permanecer zangada, pois sei que, por vezes, os meios justificam os fins.
Já pensei em colocar ligaduras bem espessas - sem propósito van goghiano obviamente - que me isolem dos lamentos sentimentais caninos. Ou então, utilizar tampões de silicone nos ouvidos, que me privarão, certamente, do belo toque do alarme simpático do despertador, o que não vinha nada a calhar em tempos laborais de vacas magras.

Venha a insanidade (em doses moderadas), que não mata e faz-nos mais fortes.